terça-feira, 19 de maio de 2009

69 reais


Li na Internet que por 69 reais você pode se tornar membro premium de um site de namoro. Em seguida, lê-se: encontre o amor de sua vida.

Primeiro, interessante o valor cobrado. 69 reais não são 68 ou 70. Tudo bem, consideremos que o valor cobrado dê um toque sensual ao convite. Porém, o que mais me intriga, é a promessa que se faz de se encontrar o amor da vida da pessoa.

Quantos profiles reais ou virtuais temos que conhecer até sabermos o amor de nossas vidas? O que pensa alguém que publica um profile virtual e aquele que procura? Simples assim: achar o perfil que mais combina?

Penso, quantos perfis no mundo real são mais virtuais do que os cibernéticos? E vice-versa?

Amor da vida? Não creio nisso, mas sim em pessoas certas nos momentos certos. Sim, já fui mais romântica. O mundo ao redor, entretanto, diz que a realidade é mais cruel e crua. Mais dura, no sentido de sentimentos.

Morei com uma moça que, em uma época, vivia defronte à televisão. Até que cheguei nela um dia e disse: por que você não desliga essa TV e vai viver a vida, ao invés de viver a vida destes personagens (de novela)?

E passou a viver.

E passou a buscar.

Cada um toca sua vida. Separação.

Wish You Were Here, do Pink Floyd. We are just two lost souls swimming in a fish bowl.
What have we found? The same old fears.
The same old fears, life is partially the same. Exceto pelas pessoas que estão compartilhando a vida conosco naquele momento, e tudo passa. As pessoas passam. Inexorável como o tempo.

Deixar o rio fluir. Dançar conforme a música. E a gente interpreta isso como puder.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Promessas de Casamento - Martha Medeiros

Esse texto de Martha Medeiros é fantástico. Compartilho.

Promessas de Casamento

Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento a igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre.
"Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?" Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:
- Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
- Promete saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
- Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?
- Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
- Promete se deixar conhecer?
- Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
- Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
- Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?
- Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?
- Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja? Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros.
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São verdades que requerem altas doses de autoconhecimento.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Encontros e desencontros


Dear,

Yes, sometimes we get blind because we fall in love. We have a sweet taste for falling in love.
I keep thinking of what you wrote since yesterday.
I was thinking that you are absolutely right. I feel like you have lighted up my thoughts. Incredible how our lives are pretty much the same even though we live so many thousands of kilometers apart from each other.
Do you know what has just come to my mind? Those moments in Ibiza, when we were inside the sea, just you and me, just chilling out. Remember?
Today I have some strong feelings: that life goes fast, that friendship lasts, that we love too much.
I totally agree that reciprocity is a must in any relationship. It is just like a road, if it takes you only one way, it leaves you that way. If it returns, then there is a real mutuality. Then it would be worthy it.
I do believe in a true relationship. All we have lived had made us stronger, and has given us parameters to understand what is the best for us. It is just about opening the eyes. It is just about listening carefully to the heart.
Like one song says, there is a time and place for everyhting and for everyone. I would also add there is a person for every time and for everyone.

There is a beautiful song that summs up this moment, which is written above.
I love you.

Miss Sarajevo (U2)


Is there a time for keeping your distance

A time to turn your eyes away

Is there a time for keeping your head down

For getting on with your day

Is there a time for kohl and lipstick

A time for cutting hair

Is there a time for high street shopping

To find the right dress to wear

Here she comes

Heads turn around

Here she comes

To take her crown


Dici che il fiume (You say the river)

Trova la via al mare (finds its way to the sea)

E come il fiume (just like the river)

Giungerai a me (you will come to me)

Oltre i confini (beyond the frontiers)

E le terre assetate (and the deserts)

Dici che come fiume (you say that, just like the river)

Come fiume... (just like the river)

L'amore giunger (LOVE WILL COME)

L'amore... (LOVE)

E non so più pregare ( I can't pray anymore)

E nell'amore non so più sperare ( I can't believe in love anymore)

E quell'amore non so più aspettare (I can't wait for love anymore)

Is there a time for tying ribbons

A time for Christmas trees

Is there a time for laying tables

And the night is set to freeze



"There are only two ways to live your life.
One is as though nothing is a miracle. The other is as though everything is a miracle."
A. Einstein

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Virou estrelinha


Passava um menino de uns cinco anos com seu pai defronte ao velório pela manhã, quando o pai disse ao menino: não, ela não vai mais voltar. Sabe, à noite, as estrelas do céu? A vovó virou uma delas, a mais brilhante. A vovó virou uma estrelinha no céu.


O ser humano tem uma maneira muito particular de lidar com a morte, no ocidente, por força do materialismo histórico. Este pensamento foi desenvolvido por Karl Marx, e está fundamentado na observação da realidade a partir do modo de produção. Desta maneira, a história se vincula e se baseia no mundo material dos homens, enquanto produtores de suas condições concretas de vida.


Baseado no mundo material, o apego ao terreno, terrestre, corpóreo, se tornam constantes cotidianas. A pessoa apegada à matéria vive das paixões a ela vinculadas: prazeres momentâneos, apego ao dinheiro, ambições materiais, relacionamentos superficiais e adiante.


No filme Sonhos, de Kurozawa, um dos contos mostra um funeral em uma comunidade do Oriente. Neste, ao invés de um rito de luto, há um rito de alegria, de emancipação. Os orientais tendem a compreender de forma mais branda e evoluída a vida após a morte. Para os xintoístas, hinduístas, budistas e taoístas, a vida não se acaba com o desencarne, apenas muda de face.


Quando compreendemos a vida de forma menos material, tendemos a ver a morte de forma natural. Ao invés da sensação de perda de alguém querido, reina a paz de que a missão fora cumprida, de início de uma vida nova, em outro plano. A estrelinha no céu vai mesmo existir: não de forma estática, como quem para e espera algo, mas de forma dinâmica, como quem não para, quem é e está, quem permanece não apenas em nossos corações, mas muitas vezes passa ao nosso lado, deixando-nos a sensação de que a pessoa está perto, e está mesmo.


O universo é uma entidade dinâmica, a Terra idem, e tudo o que está nela. Tudo tem começo, meio e fim, da forma temporal como compreendemos agora. Considerando que a Terra tem bilhões de anos, o que são 50 nela vividos? Nosso tempo é efêmero perante a eternidade.


E considerando as inúmeras estrelas do nosso céu, inúmeros planetas, galáxias e buracos negros, fica um pensamento. Nossa compreensão da morte é proporcional à nossa compreensão da vida.