sexta-feira, 24 de abril de 2009

Estou cansado de você


Estou cansado de você.

Não aguento mais a sua cabecinha de vento que só serve para segurar os cabelos.

Nem estes, tingidos de preto, curtos e alisados, porque saiu na capa da Nova do mês passado.

De você ir ao cabelereiro toda quinta à noite, de ir na manicure todo sábado às oito e meia da manhã, senão a unha estraga. Massagem toda quarta, academia todo dia, shopping dia sim, dia não.

Estou cansado dos seus papos de Contigo e Caras, as únicas coisas que você lê, há pelo menos dois anos. Lógico, no cabeleireiro. De suas fofocas das vidas alheias, da gravidez da fulana, da doença do ciclano, da vizinha jogando folhas em frente ao seu portão, da sua colega de trabalho que fez uma lipo e trocou de marido.

Da amiga que foi abandonada pelo namorado. Incompetente.

Me cansei de você não cozinhar para o seu cabelo não ficar cheirando fumaça, de não cortar o alho para não impregnar a mão, de não trocar o pneu furado porque não tem força para carregá-lo. Afinal, para que você gasta 200 reais por mês na academia?

Estou especialmente cansado das suas calcinhas brancas e rosas, estampadas de florzinhas, faça chuva, faça sol. Queria que um dia viesse de liga, outro de chicote, outro de fio dental, outro de máscara, outro com um pote de gel na mão, outro com um gelo na boca.

Cansei de ter que te explicar o que significa taxa selic, jogador impedido, carburador, chupeta. A das baterias.

E esse negócio de TPM? Cansei do seu estresse, de sua irritação e saiba: próxima vez que vier com o balde de água, vai sair com ele na cabeça. Me exauri de você me chutar um dia e no outro aparecer com cara de santa, como se nada tivesse acontecido.

Estou cansado de suas manias. De achar que a gente tem que ir ao restaurante, no dia e hora que quer. Cansei de ter que me hospedar na casa da sua amiga em Floripa porque você não quer gastar, já que está guardando dinheiro para uma plástica. De ficar 2 horas e meia se arrumando para ver uma comédia no cinema. Perder o metrô e querer ir de táxi. Estou farto dessa sua voz de criança quando conversa com cachorros, gatos e outras crianças. Pensando bem, você é nóia mesmo.

E o tamanho do bico se os seus desejos não se realizarem? Quem suporta mulher mimada?

Quer saber, princezinha, não aguento mais você.

Vou procurar um homem.

Publicações, títulos acadêmicos e um Sorriso


Ainda me lembro, 2005, eu com uma revista Fapesp nas mãos, cortesia do Departamento de Cirurgia da FORP/USP ao público. Nesta revista havia uma crônica muito interessante sobre um professor titular que receberia um prêmio importante em face de sua carreira acadêmica.

Em suma, tal escrita terminava com o professor entrando no prédio onde seria homenageado, quando, passo a passo, notou o varredor de rua executando seu serviço, o aluno de mochila nas costas apressado para a aula, meninas saindo do bandejão universitário, os pássaros no céu, os barulhos dos carros, as pessoas indo e vindo, e ele concluiu, após 40 anos de Universidade, que não era profissional ou pessoalmente significante a não ser para aqueles os quais conheciam seu trabalho ou sua família/amigos. Ou seja, pouco mais de meia dúzia.

Ainda assim, há muitos no meio acadêmico os quais se regojizam com suas posições, seus poderes (embora limitadíssimos), suas pequenas lideranças. Publicar se torna meta de vida. E se faz de tudo por isso. Ameaças, dramas, coaptações, propostas, acordos, indicações, imposições, trocas, tudo pode ser válido na inclusão de um nome nos artigos internacionais.
A fim de ser respeitado por meia dúzia? E a educação como legado, na formação de futuros professores?

Na época da residência, prestei mestrado na Alemanha. Viver no exterior, ampliar horizontes. Apreciar diferentes culturas, idiomas e povos. Esses desejos tem sido supridos com viagens frequentes e principalmente com o contato com os amigos estrangeiros.

Hoje nem posso ouvir falar em sair do país. A não ser que leve comigo a família, ou que vá embora para ter a minha família, a coisa mais importante da vida, na minha opinião. Os valores mudam, bem como a visão sobre o mundo, a vida, carreira, humanidade.

Publicar é bacana, considerando isto a conclusão de um estudo de anos. Não uma meta, mas uma consequência de um trabalho realizado com carinho e esforço. É como um bônus salarial aguardado, não garantido, mas muito comemorado quando chega. E sempre chega.
Mais bacana do que publicar com uma pessoa é aprender com ela o extra muros. É imortalizá-la em atitudes, perpetuar os ensinamentos.
Pensando bem, não há gratificação melhor do que um sorriso largo. A Odontologia permite.

Foto: Cristiane Silva, uma querida.