quinta-feira, 26 de março de 2009

Imóveis

Samara, Russia


Ela é uma moça muito simpática. Entonação de voz, palavras, tudo é um convite a alegria. Alegria no rosto, coração dolorido. Com todas as economias de uma vida de 37 anos, comprou um apartamento para a família. Por causa de um inventário ainda não solucionado, não pode passar para o nome dela. No dia em que soube estar seu pai com câncer, recebeu uma ligação de uma advogada. Aproveitando-se da situação, a ex proprietária a processa a fim de obter a reintegração de posse. Alega que não conhecia a moça (foram colegas de trabalho), e que esta "invadiu" seu apartamento. Caso na justiça.

Ela era uma senhora. Nasceu no sítio, sul do país, mal sabia ler. Perdeu uma filha adolescente. Passeva nas ruas da cidade com a foto da moça pendurada no pescoço, por anos. Com uma doença e subsequente incapacitação do marido, "herdou" muito dinheiro. Iludiu-se, fantasiou, perdeu-se. Gastou em porcariadas. Abria a carteira para a pessoa "pegar" a quantia de dinheiro a ser paga. Vendeu um imóvel no campo (lembranças de infância), sem o conhecimento do filho responsável, objetivando comprar uma senhora casa na cidade. Pagou, parcela a parcela (poucas), mas não levou. A proprietária deu a ela um recibo escrito à mão, em papel de pão. Kraft. O corretor foi conivente. Após a quitação, a ex proprietária simplesmente disse a ela que não pagara, portanto não ficaria com a casa. Simplesmente, assim como quem morde e deglute uma maçã. Simples assim. A senhora, desesperada, entrou na justiça. Humana, óbvio. Com um pedaço de papel kraft em mãos e um advogadozinho de merda, perdeu.

O que consta é que o corretor tem um filho vegetando. A dona da casa, estou pagando para saber.