segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Pipocas - Rubem Alves


Pipocas...

Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca.

É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro. ‘Morre e transforma-te!’ - dizia Goethe.

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. Meu amigo William, extraordinário professor-pesquisador da UNICAMP, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia as explicações científicas não valem. Por exemplo: em Minas ‘piruá’ é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: ‘Fiquei piruá!’ Mas acho que o poder metafórico dos piruás é muito maior. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. Ignoram o dito de Jesus: ‘Quem preservar a sua vida perde-la-á.’ A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.


Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira... (O amor que acende a lua, p. 59.)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Instantes


Se eu pudesse viver novamente a minha vida,

na próxima trataria de cometer mais erros.

Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.

Seria mais tolo ainda do que tenho sido; na verdade ,

bem poucas coisas levaria a sério.

Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais,

contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.

Iria a mais lugares onde nunca fui,

tomaria mais sorvetes e menos lentinha,

teria mais problemas reais e menos imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata

e produtivamente cada minuto da sua vida.

Claro que tive momentos de alegria.

Mas, se pudesse voltar a viver,

trataria de ter somente bons momentos.

Porque se não sabem, disso é feito a vida.

só de momentos; não percam o agora.

Eu era um daqueles que nunca ia a parte alguma sem um termômetro,

uma bolsa de água quente, um guarda- chuva e um pára-quedas;

se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver,

começaria a andar descalço no começo da primavera

e continuaria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na minha rua,

contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,

se tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.



* Autoria discutível. Poema atribuído ora a Jorge Luis Borges , ora a Nadine Stair.



Livro: Se eu pudesse viver minha vida novamente...

Rubem Alves, Verus Editora,2004 Campinas/SP

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Clarice Lispector


Amar não acaba.

É como se o mundo estivese à minha espera.

E eu vou ao encontro do que me espera.
(Foto de Anahi, a cantora mexicana, com e sem produção. Os recursos estão aí e por que não usá-los?)