terça-feira, 28 de julho de 2009

Oportunidades


Já ancorado na Antartida, ouvi ruídos que pareciam de fritura.


Pensei: Será que até aqui existem chineses fritando pastéis?


Eram cristais de água doce congelada que faziam aquele som quando entravam em contato com a água salgada. O efeito visual era belíssimo.


Pensei em fotografar, mas falei para mim mesmo:


- "Calma, você terá muito tempo para isso".


Nos 367 dias que se seguiram, o fenômeno não se repetiu.


"Certas oportunidades são únicas" - Amyr Klink


Enviado por R. Moia.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Histórias da Vida Real


As histórias da vida real não são doces e românticas.

Nelas, os personagens são egoístas e auto-centrados. Nelas, os personagens têm sangue e dor.

Essas histórias contam amores mal resolvidos, casamentos por interesse, trabalho sem qualidade de vida, negação da própria identidade, obsessões de todos os tipos e, principalmente, doenças psíquicas não aceitas.

A humanidade está psiquicamente doente, não sou eu quem diz. Basta viver para constatar. O interessante é a dificuldade de as pessoas aceitarem a patologia como condição.

Uns se apegam aos amigos.

Outros, à forma física.

Outros, ao trabalho.

Outros, à religião.

Outros, à promiscuidade.

Outros, aos remédios.

Outros, à bebida.

Outros, às drogas.

Outros, à arte.

Outros, ao isolamento.

Outros, ao cônjuge.

Outros, à comida.

Outros, à matéria.

Outros, ao consumo.

Outros, à obsessão, das mais diversas formas.

E por aí adiante. Aceito sugestões.

Constata-se que a pessoa doente não aceita, não enxerga sua patologia.

Uma consulta no terapeuta vale mais de cem reais.

Nunca os consultórios tiveram tão lotados.

O homem é mesmo uma desgraça ambulante. Nu e de boca fechada, é reduzido ao nada. Somos tão iguais que até arde. Haja visto os campos de concentração.

Quando o homem dar-se-á conta de sua ínfima existência?

Quando encontraremos o sentido da vida?

O que nos diferencia uns dos outros? Aquilo que mais nos aproxima.
Dia após dia, sob ação dos radicais livres, envelhecemos, morremos um pouquinho mais. Com muitas perguntas e poucas respostas.


Afinidade


Recebi este texto e publico, achei muito interessante. Fala sobretudo da separação e do reencontro. Autor Artur da Távola (sem fonte precisa).


A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. O mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido. Afinidade é não haver tempo mediando a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo sobre o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial. Ter afinidade é muito raro. Mas, quando existe, não precisa de códigos verbais para se manifestar. Existia antes do conhecimento, irradia durante, e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade. Afinidade é ficar longe, pensando parecido a respeito dos mesmosfatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavra.É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento. Afinidade é sentir com. Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo. Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado. Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios. Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar do que falar.Ou, quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar. Afinidade é jamais sentir por.Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.Compreende sem ocupar o lugar do outro. Aceita para poder questionar.Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.
Só entra em relação rica e saudável com o outro,quem aceita para poder questionar.Não sei se sou claro: quem aceita para poder questionar,não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é.E, aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso.Isso é afinidade.Mas o habitual é vermos alguém questionar porque não aceitao outro como ele é. Por isso, aliás, questiona.Questionamento de afins, eis a (in)fluência.Questionamento de não afins, eis a guerra.
A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele.Independente dele. A quilômetros de distância.Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.Há afinidade por pessoas a quem apenas vemos passar,por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos.Há afinidade com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos,veremos ou falaremos.
Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saempara buscar sintomas com pessoas distantes, com amigos a quem não vemos,
com amores latentes, com irmãos do não-vivido?
A afinidade é singular, discreta e independente,porque não precisa do tempo para existir.Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu o vínculo da afinidade!No dia em que a vir de novo, você vai prosseguir a relaçãoexatamente do ponto em que parou.Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidasnem pelas pessoas que as tem. Por prescindir do tempo e ser a ele superior,a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidadesancestrais com a experiência da espécie no inconsciente.Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós,para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.
Sensível é a afinidade. É exigente, apenas de que as pessoas evoluam parecido.Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau,porque o que define a afinidade é a sua existência também depois. Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado, e anos depois encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir restituir o clima afetivo de antes, é alguém com quem a afinidade foi temporária.E afinidade real não é temporária. É supratemporal.Nada mais doloroso que contemplar afinidade morta, ou a ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade.A pessoa mudou, transformou-se por outros meios.A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas,plantios de resultado diverso. Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças, é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,quantos das impossibilidades vividas. Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou, sem lamentar tempo da separação. Porque tempo e separação nunca existiram.Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar. E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais, a expressão do outro sob a forma ampliada erefletida do eu individual aprimorado.