quarta-feira, 8 de abril de 2009

Empatia


Ele me abandonou.

Eu com esta barriga de sete meses, caminho pelas ruas, seguro a base do ventre. Penso, logo eu, que sonhava tanto em ter uma família, bem tradicional, com marido e filhos correndo no parque aos domingos. Olhos secos, boca seca, dor no corpo.

A cada atravessar de ruas, olho para os lados para ver se há carros, mas logo meus olhos encontram o horizonte ao fim da rua, ambas direções. Desesperança, tristeza, solidão.

Atravesso.

Me sinto só que dói, que decepa a alma. Estranho, há alguém aqui comigo, mas me sinto só como nunca.

Nem um bom dia, um telefonema de oi, de como está você.

Como está o filho.

Fico pensando em minha mãe, quando me pariu. Disse que estava sozinha no hospital também, embora fosse casada com meu pai. Ele estava em casa, talvez chegando de uma viagem a negócios, deixando-a sozinha. Inconscientemente, talvez. Finalmente encarno a complexidade do sentimento de minha mãe.

Sempre idealizadora, eu sonhava em ter uma família terna. Ele para sempre ao meu lado. Mas se foi, simplesmente. Imaturidade emocional. A única coisa que se dispôs a dizer foi: não estou pronto para ser pai. Para me casar. Para ter uma família.

Agora sinto os olhos antes secos se encherem de água. Subitamente escorrem pela pele. Dizem que o ser humano chora para não explodir. O vento sopra em brisa de outono e as lágrimas esfriam o rosto, como se fosse um bálsamo, uma mão que acaricia.

Fecho os olhos por alguns segundos. Desacelero, olho e não vejo.

Tudo o que sinto é desesperança, descrença, desamparo.
Atravesso, passo a passo, a última rua.

É como se eu não existisse.